Férias…É bom saber!
Poucos sabem dos riscos vasculares inerentes às viagens longas de avião.
Por vivermos em posição ereta, o sangue utilizado pelas pernas, para seu retorno ao coração, deverá subir pelas veias contra a gravidade, sendo impulsionado neste sentido por mecanismos de bombeamento que utilizam a musculatura da panturrilha (“barriga da perna”) e válvulas no interior das veias, para que o sangue não volte para baixo.
Um defeito nestas válvulas ou situações que exijam a permanência prolongada em pé ou sentado sem se mexer faz com que o sangue suba mais devagar, aumentando assim a pressão no interior das veias. Como as veias das pernas aguentam uma pressão criada pela gravidade, se não houver movimentação das panturrilhas haverá uma “parada” do sangue nelas, propiciando sua coagulação. Isto é a trombose venosa que é a formação de coágulos dentro das veias e que promovem sua obstrução.
As oclusões maiores podem levar a uma série de sintomas tais como dor, inchaço e calor, já oclusões menores podem passar despercebidas. Os membros inferiores são os locais onde mais frequentemente ocorrem as tromboses venosas.
Quando acometem o sistema venoso profundo é chamada de trombose venosa profunda (TVP) e é associada ao risco elevado de embolia pulmonar. Esta ocorre quando um coágulo se desprende do local onde foi formado e migra causando a obstrução de vasos do pulmão impossibilitando a correta troca gasosa entre o sangue e o ar nos pulmões.
A embolia pulmonar é um problema que traz alto risco de vida. Dependendo do tamanho da obstrução na circulação pulmonar, podemos ter desde uma leve falta de ar súbita até uma dispneia grave.
Tem maior risco de desenvolver uma trombose venosa, pessoas com mais de 40 anos de idade (principalmente acima de 60 anos), obesos, com história de doença venosa principalmente varizes nas pernas, gravidez e pós-parto, tabagismo, trauma e/ou cirurgia recente (sobretudo em membros inferiores), imobilidade prolongada, trombofilias (doenças que levam a um aumento da coagulação sanguínea e que, em alguns casos, podem passar por muito tempo assintomáticas), história familiar e o uso de reposição hormonal ou pílulas anticoncepcionais.
As companhias aéreas colocam muitos assentos na classe econômica, diminuindo o espaço para as pernas e obrigando os passageiros a se manterem praticamente imóveis durante a viagem. Com isso tem ocorrido um grande número de fenômenos trombóticos em muitos voos.
Os principais fatores de risco são: ficar sentado por períodos superiores a 4 horas, em assentos apertados que comprimam os membros inferiores (especialmente a região das panturrilhas), desidratação por baixa ingestão de líquidos, excesso de álcool (algumas pessoas usam bebidas alcoolicas para “relaxar” durante o percurso….) ou pela baixa umidade da cabine do avião e veias varicosas nos membros inferiores. Há casos de pessoas jovens, sem qualquer patologia, e que, viajando mesmo de primeira classe também apresentaram a doença.
Algumas medidas simples podem ser muito úteis na sua próxima viagem:
– Caminhe durante a viagem. Tente levantar-se e andar ao menos por cinco minutos a cada hora. Caso não seja possível, tente simular uma caminhada com movimentos em suas pernas. Assim, você ajuda o sangue circular melhor e diminui o risco de trombose;
– Evite desidratação; esta condição provoca constrição dos vasos sanguíneos e hemoconcentração (o sangue “engrossa”). Assim, evite bebidas alcoólicas em excesso e mantenha uma ingestão líquida apropriada;
– Se a aspirina (AAS) não lhe faz mal tome algo em torno de 250 mg (meio comprimido de adulto) um pouco antes da partida. A aspirina inibe o processo de formação de coágulos sanguíneos;
– Use meias elásticas medicinais. Elas melhoram o fluxo sanguíneo venoso e diminuem a possibilidade de trombose venosa.
A melhor prevenção para uma viagem longa é passar em consulta com um cirurgião vascular para uma avaliação e, se necessário, terá indicação da melhor profilaxia. Assim fará uma boa viagem.
Se retornar de viagem com inchaço nas pernas também é importante visitar um especialista.